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Vortex | Loja de Rock, Selo Musical, Produtora de Vídeo, Estúdio e Bar

A postagem de hoje é sobre um bar que foi muito inovador aqui em Porto Alegre (talvez do mundo) nos anos 80, o Vortex. Essa reportagem que eu fiz foi publicada na revista Sextante da FABICO/UFRGS em 2012/1, inclusive serviu de inspiração para o pessoal do Radar, da TVERS, fazer um programa especial sobre o tema. Ao final da reportagem, vou colocar esse especial do Radar e mais alguma coisa relativa ao tema…

Bar Vortex

Foto em frente ao bar Vortex. Da esquerda para direita: Cláudio Heinz, Luciana Tomasi, Carlos Gerbase, Heron Heinz e Wander Wildner. Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

O futuro é Vortex

Nesta quarta-feira, dia 2 de setembro, um turbilhão de ideias toma conta da cidade. A partir das 22h, abrem-se oficialmente as portas de VORTEX, um lugar que reúne, num mesmo endereço (Protásio Alves, 737) várias possibilidades de cultura e lazer: estúdio completo para ensaios musicais, com bateria e ar condicionado; vídeo-bar com programação permanente de clipes e shows de Porto Alegre e do mundo; loja especializada em rock, com discos, fitas, camisetas e vídeos selecionados. Ou seja: dá pra ensaiar tomando uma cerveja bem gelada, ou comprar um disco vendo um clipe da banda que o gravou, ou assistir (pela TV) a um show ao vivo de um grupo que está no estúdio naquele momento, ou tudo isso ao mesmo tempo, dependendo do gosto do freguês…

Esse é o primeiro release do bar Vortex, sede da banda Os Replicantes, um lugar com muitas possibilidades de entretenimento. Eu confesso que eu nunca tinha ouvido falar desse lugar aqui em Porto Alegre e só descobri depois de uma conversa informal ao final de uma entrevista com o cineasta Carlos Gerbase. Fiquei muito curioso para saber mais sobre esse bar, queria que essa história fosse publicada em algum lugar. Aqui estamos.

Um lugar que abrigava vários lugares

Um local onde as bandas podiam ensaiar os seus shows e, de brinde, serem gravados por uma câmera de vídeo que transmitia ao vivo para o bar tudo o que rolava lá dentro do estúdio. Uma casa onde você poderia conversar com os seus amigos assistindo a vídeos de bandas que você gosta (não existia MTV aqui nessa época) ou ir na loja especializada de rock comprar umas camisetas, discos, etc. E, além de tudo isso, ser um selo independente que gravava e distribuía materiais em áudio e vídeo das bandas daqui da cidade: Bem-vindo ao bar Vortex.

O selo Vortex surgiu quando a banda Replicantes, entre 1985/86, decidiu gravar um compacto duplo das suas canções. O dinheiro para fazer este trabalho viria dos integrantes através de uma associação realizada junto com a produtora da banda, Luciana Tomasi. Nessa época, a gravadora RCA chega ao Rio Grande do Sul decidida a investir em cinco bandas locais, entre elas Os Replicantes. O investimento da gravadora deu um bom retorno, pois a banda vendeu aproximadamente 20 mil cópias e teve uma boa execução nas rádios. Entre shows e festivais de música, Os Replicantes perceberam que haviam muitas bandas boas na região e, algum tempo depois, começaram a pensar em alguma maneira de divulgar melhor o trabalho desses artistas. Mas o obstáculo maior para colocar em prática isto era a falta de capital financeiro, já que eles não tinham dinheiro para investir neles próprios, quem dirá investir em outras bandas. A solução para esse problema surgiu logo em seguida, quando a RCA procurou a banda para fazer um novo contrato a fim de lançar mais dois discos. Como tinham feito uma boa venda do primeiro LP, a banda aceitou fazer esse contrato, desde que recebessem um adiantamento. Em 1987, com o dinheiro que receberam da gravadora, Os Replicantes resolveram investir num lugar onde pudessem aplicar um capital, nem que fosse mínimo, para lançar essas bandas novas. Alugaram uma casa onde eles poderiam colocar tudo o que eles achassem legal, como afirma Gerbase:

– A gente transformou essa casa num bar, é bom beber; num estúdio para ensaiar, o que resolvia um problema nosso para ensaiar; uma loja de discos especializada em rock e uma sede do selo Vortex.

Além disso, o local também era uma produtora de vídeo, que na época se chamava InVideo, porém no futuro passou a se chamar Vortex Vídeo. Eles começaram lançando fitas cassete e, logo em seguida, fitas VHS das bandas que tinham contrato com o selo. Muitas bandas forneciam o material gravado de outro estúdio para que fosse distribuído pela Vortex, como é o caso dos Cascavelletes com a sua primeira fita demo. Algumas pessoas dizem que a qualidade sonora de alguns trabalhos distribuídos pela Vortex era superior inclusive a de muitas regravações “oficiais” feitas posteriormente por outras gravadoras, tais como a fita da Graforréia Xilarmônica chamada Com Amor Muito Carinho, que foi gravado no próprio estúdio da Vortex, e a primeira fita demo dos Cascavelletes. Outro trabalho que é reconhecido pela sua qualidade sonora, e Gerbase não tem certeza se foi gravado na Vortex ou em outro local, são as duas fitas demo do músico Júlio Reny, chamados Amor e Morte e Não chores Lola. Todo o material do selo Vortex era vendido na própria loja ou pelo serviço de Caixa Postal.

Alguns releases da Vortex eram feitos no estilo fanzine. Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Carlos Gerbase disse que o bar Vortex não tinha uma direção, já que Os Replicantes eram uma banda anárquica e cada um fazia o seu trabalho, um não incomodava o outro:

– O Wander cuidava mais das gravações do estúdio, o Claúdio Heinz ficava no bar, o Heron fazia um pouco de tudo, eu cuidava muito da parte de vídeo, não haviam cargos e funções específicas, cada um fazia um pouco de tudo.

As bandas que ensaiavam ou gravavam no estúdio eram transmitidas ao vivo para as televisões que existiam no bar, como se fosse um pocket show para os frequentadores. Quando não tinha alguma banda tocando no estúdio, eles deixavam vídeos de bandas rodando nas televisões. Alexandre Barea, ex- baterista dos Cascavelletes, era um dos frequentadores do local:

– O Vortex era um estúdio/bar onde compusemos os maiores clássicos dos Casca. Ensaiávamos duas vezes por semana lá e rolavam também os ensaios/show, onde tudo o que rolava dentro do estúdio era transmitido para umas TVs que ficavam no bar onde reunia muita gente – afirma Barea.

– EROON, EROON!!! Assim chegava todos os dias a dona Maria, uma moradora de rua que vivia perto do bar. Gerbase e os outros integrantes da banda diziam que ela era apaixonada pelo Heron Heinz, de tanto que ela gritava chamando por ele para pedir alguma coisa no bar. Além disso, a dona Maria era uma das pessoas que ajudava a cuidar da casa também. A maioria dos frequentadores do bar Vortex não tinha muita grana para gastar, conta Gerbase:

– Tinha muito punk que ia lá e punk é duro por natureza, vai consumir o mínimo possível e se divertir ao máximo. Tinha gente que ia lá umas seis horas da tarde, tomava uma Coca-Cola e ficava até às duas horas da manhã lá, sentado na mesa, vendo vídeos e ouvindo umas músicas, daí não tinha lucro nenhum.

Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Boas lembranças pra quem conheceu

Como diz aquela velha frase clichê: “Tudo que é bom, dura pouco.” O bar Vortex durou exatamente um ano, o tempo do contrato do aluguel da casa. O dono queria um aumento no valor do aluguel e como o dinheiro investido na casa retornou para a banda, estavam num “zero a zero”, lembra Carlos Gerbase. Sendo assim, resolveram encerrar as atividades no local, mas sem acabar com alguns projetos construídos nesse ano de funcionamento. As festas organizadas pela Vortex passaram a ser realizadas no bar Ocidente com o nome Noites de Vortex, onde duraram mais ou menos dois anos. A casa fechou, porém o selo continua na ativa até hoje, com menos vigor e atividade do que na época de funcionamento do bar.

Logo após a entrevista que eu fiz com Gerbase, entra no escritório um dos personagens dessa história, Wander Wildner. Como eu fui pego de surpresa, na hora nem pensei em fazer alguma pergunta referente ao bar Vortex ou tirar alguma foto, fiquei conversando com dois sobre assuntos diversos. Durante a conversa, Gerbase mostra ao amigo duas fotos antigas do tempo em que o bar funcionava e os dois ficaram admirando aquelas fotos com um olhar de nostalgia. Wander disse que nunca tinha visto aquelas fotos que estavam nos arquivos do Gerbase. Ver aquela cena, valeu mais do que qualquer pergunta que eu fizesse para ele no momento. Aquele olhar mostrou que o bar Vortex deixou boas lembranças pra quem um dia foi lá.

Hoje no local onde era o bar Vortex é o estacionamento de um restaurante. Fonte: Bart Borges

Hoje no local onde era o bar Vortex é o estacionamento de um restaurante. Fonte: Bart Borges

Como eu disse no início do post, essa reportagem serviu de inspiração para a produção do Radar fazer um programa especial sobre esse lugar multifuncional dos anos 80. Confere aí abaixo, o programa que teve o primeiro episódio dessa série especial com entrevistados ao vivo no estúdio também:

Um dos entrevistados no estúdio naquele dia foi o Boca Migotto, diretor do documentário Filme Sobre um Bom Fim. Nesse doc, podemos ver como era a cena jovem porto-alegrense nos anos 80, inclusive a parte da falta de grana da gurizada, hehe. Pra quem tem acesso ao Now da Net, pode assistir o documentário através do Canal Brasil On Demand pelo decodificador ou pelo site usando o login da sua TV por Assinatura.

Uma curiosidade sobre essa reportagem do bar Vortex, que eu não incluí na reportagem, foi sobre o material gravado em vídeo daquela época. O Gerbase me falou no dia da entrevista que eles possuem um acervo enorme de fitas em vídeo e um dia, quem sabe, eles irão fazer um documentário sobre o próprio bar Vortex ou das bandas que passaram por suas lentes durante os eventos produzidos pelo selo Vortex. Me lembro que na época até me ofereci a ajudar eles na catalogação desse material. Sem querer, durante a pesquisa para este post, encontrei o Carlos Gerbase e a Luciana Tomasi falando sobre o assunto numa matéria da ZH. Outra informação que não entrou na matéria, mas não menos importante, é que o Frank Jorge, segundo o Gerbase, passou pelo estúdio/selo da Vortex com todas as bandas que ele participava na época. Espero que tenham gostado da postagem e quem sabe um dia a gente possa ver todo esse acervo audiovisual num documentário.

⊗ Após a publicação desta postagem, recebi um depoimento interessante de um dos frequentadores do local na época, Gilberto Six, da web rádio Putzgrila. Acho que vale fazer esse adendo:

“Passei muitas tardes e noites nesse lugar, além de fazer os primeiros ensaios com a banda que eu tentava formar na época.
O acervo de vídeos do Carlos Gerbase era único e através dele pude conhecer filmes e vídeos de bandas que jamais veria em lugar nenhum.
Vi alguns shows clássicos que eram transmitidos pelo circuito de vídeo de dentro do estúdio, como um baile de três horas protagonizado pela Graforréia Xilarmônica, que teve direito a telão na rua. Numa tarde, errei a porta do banheiro e acabei dando de cara com um ensaio dos ainda embrionários Cascavelletes, que além de ensaiar na Vortex teve uma fita cassete lançada pelo selo com seu incendiário repertório. Além deles, a Graforréia também teve uma fita cassete lançada pelo selo.
Na época, eu trabalhava no Supermercado Dosul e sempre que via alguém dos Replicantes fazendo compras dava um jeito de levar as compras, quase sempre era o Claudio Heinz de quem eu era fã e que sempre me tratou bem e nunca negou uma conversa, apesar de parecer sempre ter acordado a pouco.
Cheguei a passar uns dias nessa casa quando ela ficou vazia e abandonada. Essa casa foi destruída, só ficou o terreno, um grande vazio e a saudade de um tempo que não volta mais.
Parabéns Bart Borges por resgatar essa história.”

Cinema: Retrospectiva da produção de uma arte no Brasil

Como o dia 19 de junho é a data comemorativa do cinema brasileiro, eu resolvi fazer esse post com a minha reportagem que foi publicada na revista 3X4 da FABICO/UFRGS em 2011/2. Aqui está a versão da minha reportagem na íntegra, com alguns extras, inclusive com um parágrafo que eu tive que retirar na época para poder entrar nesta edição impressa (fatiar o texto é o que eu não gosto no jornalismo impresso). Espero que gostem. Segue a reportagem aí abaixo:

A produção de uma arte: O cinema

O cinema, ah o cinema. A sétima arte surgiu timidamente com algumas pequenas invenções que davam aos nossos olhos ilusões de movimento. Mas só quando Eadweard Muybridge, no ano de 1872, alinhou 24 câmeras fotográficas ao longo de uma pista de corrida, obtendo a imagem real de um cavalo correndo, tivemos a primeira sensação do que poderia ser um filme. A junção das imagens, num determinado intervalo de tempo, faz com que o cavalo esteja em movimento. Hoje essas fotografias em série, no cinema, são chamadas de fotogramas. Dá uma olhada no experimento:

Alguns anos depois, aproximadamente em 1890, foi criado por Thomas Edison e William Dickson o cinetoscópio, que era uma caixa de madeira onde as pessoas assistiam a filmes através de um orifício. Por volta de 1895, os irmãos Lumiére na França aperfeiçoaram essa invenção e criaram o cinematógrafo. Um aparelho que além da função de filmar podia também projetar as imagens em uma tela. A primeira sessão comercial durou aproximadamente vinte minutos, sendo projetados dez filmes. Confere aí um pouco do que foi apresentado nesse dia:

E no Brasil, como foi? No nosso país a primeira exibição de cinema foi em 1896, no Rio de Janeiro, através dos irmãos italianos Segreto, os pioneiros em filmagens aqui no Brasil. Os primeiros filmes nacionais eram feitos pelos proprietários de salas de cinemas com um caráter mais documental mostrando a realidade nacional, como festas, cerimônias, aspectos da cidade e reconstituições de crimes famosos. Com o tempo, o cinema nacional evoluiu e, na década de 30, surgiram produtoras como a Brasil Vita Filmes e a Cinédia. Na Cinédia tivemos o mais importante filme mudo brasileiro, Limite de Mario Peixoto, que fez mais sucesso na Europa do que aqui, um filme que explorou ângulos e cortes diferentes do que era feito na época. Pra quem quiser assistir o filme Limite completo:

Na década seguinte, através da Atlântida Cinematográfica, o gênero chanchada ganha espaço e teve como grandes astros Oscarito e Grande Otelo. Esse tipo de filme tratava de problemas do cotidiano com um humor de fácil compreensão popular, tendo como o tema carnavalesco algumas comédias musicais.

Veja um dos grandes sucessos da Atlântida com Grande Otelo e Oscarito (a dona do canal só deu permissão para assistir diretamente no site, basta clicar no ícone do YouTube na barra de ferramentas ou no link após apertar o Play):

No final da década de 40, surgiu a primeira produtora de filmes no Brasil no estilo hollywoodiano, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, onde o seu lema era “a produção brasileira de padrão internacional”. Ocupando um terreno da família Matarazzo em São Bernardo do Campo, interior de São Paulo, Franco Zampari junto com empresários e banqueiros paulistas criam a Vera Cruz. As produções tinham um alto custo, pois muitos dos técnicos que trabalhavam lá eram estrangeiros, além da manutenção de toda a estrutura que possuía a companhia. Apesar da qualidade técnica e artística, a Vera Cruz durou aproximadamente cinco anos, produzindo 22 filmes. O fim dessa produtora se deve aos elevados orçamentos para cada filme e a falta de apoio governamental, que não criava barreiras com os filmes estrangeiros, gerando uma concorrência desigual aqui no país contra estúdios do exterior. Outro problema era na distribuição do filmes: os distribuidores e os exibidores no Brasil ficavam com mais de 60% da arrecadação. A obra mais conhecida da Vera Cruz é O Cangaceiro, o primeiro filme brasileiro premiado no Festival de Cannes.

Em contraposição as chanchadas e aos grandiosos custos nas produções nacionais, surgem dois movimentos: o Cinema Novo e o Cinema Marginal.

Irmãos briguentos: Cinema Novo e Cinema Marginal

Como já foi dito, esses dois movimentos tinham aversão as chanchadas e as grandes produções nos estúdios, pois eram vistos como alienados. Eles eram como irmãos: parecidos, se davam bem no começo, mas com o tempo acabaram se separando devido as suas diferenças de concepção do que era fazer cinema.

Surgindo nos anos 50 com o bordão clássico de Glauber Rocha, “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, junto com Cacá Diegues e outros cineastas que compunham o Cinema Novo, queriam fazer um cinema que fosse barato na sua produção, indo para as ruas com câmeras mais leves mostrando a realidade social brasileira com temas que falavam sobre o subdesenvolvimento do Brasil, tais como a fome no nordeste, miséria e etc. Tinham cenários simples ou naturais, imagens sem muitos movimentos, diálogos extensos entre os personagens e faziam uma mescla de atores profissionais com amadores. Os personagens eram retratados como representantes de uma classe social, pois os cinemanovistas queriam tratar da estrutura da sociedade, não importava o indivíduo em si. A ditadura militar e a repressão política fez com que o movimento enfraquecesse, fazendo com que alguns dos cineastas se exilassem. Segundo a pesquisadora na área do cinema, a Profª Drª Miriam Rossini, o Cinema Novo é um movimento que não entende nada das pessoas, um cinema elitista feito por intelectuais que olham para todo o restante com estranhamento. Era um intelectual afastado que falava sobre determinada situação sem viver a realidade do local para entender e saber como era de verdade. Muitos criticam o cinema novo por não ter ido às favelas que já existiam dentro da cidade, era mais fácil mostrar a realidade nordestina que está lá longe aonde ninguém chega. Uma das justificativas para isso acontecer era porque um banco de Minas Gerais financiava toda a produção dos filmes, por mais que os custos fossem baixos. Quem quiser assistir um dos primeiros filmes de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol, fique à vontade:

O ex-assistente de Glauber Rocha, Júlio Bressane, junto com o pessoal mais jovem do cinema novo, entre eles Rogério Sganzerla, não aceitaram se adaptar as novas circunstâncias e criaram uma nova vertente, o Cinema Marginal. Vale lembrar que no Cinema Novo eles tinham praticamente a mesma idade e origem intelectual, porém os Marginais variam mais na sua faixa etária e classe social como lembra o jornalista João Carlos Rodrigues: “Vão de um cinquentão proletário (Ozualdo Candeias) a jovens revoltados da classe alta (Bressane), passando por escritores (Zé Agrippino) e diretores de teatro (Álvaro Guimarães) típicos da classe média.” Pode-se notar que no Cinema Marginal as imagens se apresentam em constante movimento como nos filmes de Sganzerla e João Trevisan e os constantes silêncios nos filmes de Júlio Bressane e Ozualdo Candeias. Essas duas vertentes começaram juntas, mas foi com o filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, que se afastaram completamente. Os marginais criaram uma rixa, pois eles achavam que o modelo e a estética tinham que mudar e ser mais radicalizado. Não se importavam com a censura existente, faziam críticas à tortura da ditadura através de cenas exageradas de violência e de fluidos corporais como o vômito. Os marginais produziam vários filmes com a mesma equipe em forma de revezamento, sendo que os primeiros filmes eram mais conscientes do que os últimos filmes, que eram mais radicais. Devido ao seu isolamento e a censura existente, o Cinema Marginal durou até meados dos anos 70, aproximadamente. Uma curiosidade é que o próprio Glauber Rocha já disse que tinha feito um filme na estética do Cinema Marginal, o filme Câncer de 1972. Esse filme levou quatro anos pra ser montado.

Quem quiser ver o filme completo do Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, confere aí abaixo:

O cinema hoje em dia

Foi se o tempo em que para se fazer um filme precisava de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Hoje em dia precisa de dinheiro no bolso também, pois é muito caro fazer um filme com baixo orçamento. Tá certo que atualmente com uma câmera digital você pode filmar em HD ou com um simples aplicativo para o iPhone cria-se uma textura de Super-8, mas ainda estamos num momento de transição dessas tecnologias. O cineasta colombiano Juan Zapata afirma que futuramente essas tecnologias estarão mais acessíveis, muitas plataformas de distribuição, porém alerta que vai haver muita saturação de histórias e vai ser preciso um processo muito mais seletivo desse conteúdo.

Atualmente, os cineastas contam com o apoio do Estado para fazer um filme, através dos editais que podem ser federais, Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual, estaduais e municipais. Combinado a isso existem também os incentivos de empresas privadas e públicas, tudo aparecendo bem estampado no começo dos filmes nacionais. Esse foi o jeito que o Brasil encontrou para sustentar o seu cinema nos últimos anos, mas poderia ser mais discreto e rápido:

Eles estão trabalhando com o dinheiro público, estão ganhando quando investem no filme e ganham em publicidade em cima dos filmesressalta o cineasta Carlos Gerbase.

De acordo com os dois cineastas, existem dois empecilhos quando vai se fazer um filme, além da competição pelos editais. O primeiro seria a falta de credibilidade em relação ao cinema nacional, diz Zapata.

Falta roteiro, faltam boas atuações, com repetições do que está vendo na novela, mesmo elenco fazendo filmes, mesmo com sucesso não tem credibilidade no cinema.

O outro empecilho, segundo Gerbase, seria a desigual competição com os filmes estrangeiros, que tem uma facilidade para “chutar” um filme daqui com uma facilidade espantosa.

Nos dia atuais, os cineastas procuram novas formas de lançar os seus filmes. Carlos Gerbase, que já fez filmes com todos os tipos de recursos, lançou o filme 3 Efes simultaneamente nos cinemas, televisão, DVD e na internet através de um acordo com o portal Terra: “a gente pode continuar valorizando as salas, mas não podemos ficar condenados as salas de cinema”, afirma Gerbase. Juan Zapata vai lançar o filme Simone através do projeto Cinema em Rede, que é um novo modelo de financiamento de filmes. O dinheiro para a produção do longa é arrecadado por meio de um crowdfunding. Quem contribui com determinado valor, recebe prêmios ou brindes e se torna um incentivador cultural. O Cinema em Rede é uma rede social de trabalho coletivo que serve para viabilizar projetos.

Para mais detalhes sobre a história do cinema, você pode acessar esse site que tem uma linha cronológica com uma interface bem legal:

http://www.telabr.com.br/timeline/mundo

⊗ Na publicação impressa da revista 3X4, o professor, que orientava e era o editor-chefe da disciplina, não gostava que utilizássemos professores da UFRGS como fonte nas nossas reportagens. Como eu não pude publicar na época o nome da professora, resolvi aqui dar o devido crédito da informação.