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Making of | Com quantos paus se faz Rock and Roll

Um dos trabalhos que eu mais tive orgulho de fazer durante a faculdade foi o audiodocumentário sobre Os Cascavelletes, Com quantos paus se faz Rock and Roll. O nosso grupo foi premiado com dois trabalhos no 21º Prêmio Unirádio FM Cultura em 2013, sendo um deles o doc dos Casca. Aqui nesta postagem vou contar um pouco dos bastidores  e como foi produzir este material.

Da esquerda para a direita: Flávio Basso, Nei Van Soria, Alexandre Barea e Frank Jorge

Da esquerda para a direita: Flávio Basso, Nei Van Soria, Alexandre Barea e Frank Jorge

Este trabalho da faculdade foi concebido quando eu e os meus colegas fazíamos a disciplina de Radiojornalismo 2 na FABICO-UFRGS, no quarto semestre. Primeiramente, quando discutíamos qual tema abordar nesse audiodocumentário, pensamos em fazer um trabalho sobre o tema rock gaúcho e contar as histórias das bandas mais conhecidas aqui do estado. Como iria ficar muito abrangente, a nossa professora, Cida Golin, nos orientou para que filtrássemos mais a temática, daí resolvemos fazer sobre as bandas TNT e Cascavelletes. Como vimos que também iria gerar muito material e não iria caber nos 30 minutos de tempo do documentário, resolvemos fazer só sobres Os Cascavelletes. Após algumas reuniões em grupo, conseguimos agendar as primeiras entrevistas, então vou colocar aqui mais ou menos como eu me lembro qual foi a ordem dos entrevistados, já que os arquivos que eu tenho aqui estão com as datas fora de ordem 😛

Os nossos primeiros entrevistados foram três comunicadores da rádio Pop Rock (atual MixFMPoa): Arthur de Faria, músico e um dos grandes estudiosos da música brasileira; Mauro Borba, um dos fundadores da rádio Ipanema FM e que vivenciou a cena roqueira dos anos 80 aqui em Porto Alegre; e Paulo Inchauspe, músico e um dos gestores da rádio na época. Fomos muito bem recebidos na emissora por eles e na época a rádio tinha se mudado para o centro de Porto Alegre. Eu me lembro que, depois da entrevista com eles, eu fiquei assistindo o programa Cafezinho sendo feito ao vivo. O próximo entrevistado foi o Alexandre Barea, baterista dos Casca, e fizemos a entrevista num sábado a tarde na casa/escola de bateria dele. Após algumas histórias da banda, e ele ter nos mostrado o seu estúdio de aulas de bateria, descobri que ele foi um dos fundadores da Torcida Popular do Internacional e o foi um dos compositores daqueles cânticos baseados em clássicos do rock que são cantados até hoje nos jogos. A entrevista com ele foi uma das mais bacanas, tanto pela sua atenção conosco quanto a sua receptividade (eu consegui entrevistar ele de novo para mais um trabalho da faculdade).

A única entrevista que eu não participei junto foi com o Frank Jorge, daí não tenho muito o que dizer. Pra quem tem curiosidade, no áudio da entrevista, ele nos contou bastante histórias da sua carreira e vida. O próximo entrevistado na lista foi o Luciano Albo, baixista que substituiu Frank quando ele decidiu sair da banda para terminar o curso de Letras na UFRGS. O Albo foi até o nosso estúdio de áudio na FABICO e contou como foi entrar na banda, além de contar algumas histórias de bastidores dos Cascavelletes, que a gente não colocou no nosso trabalho porque iria estourar o tempo de duração do documentário. O penúltimo entrevistado foi o Nei Van Soria: fomos até a sua loja de instrumentos musicais, que fica no centro de Porto Alegre. Bem como os outros integrantes o retrataram, o Nei é um cara bem reservado e tímido. Ele não entrava muito afundo nas histórias, mas respondeu todos os questionamentos, inclusive sobre o projeto dos seus ex-companheiros, o Tenente Cascavel.

Júpiter no seu escritório (J.A.C.K.)

Júpiter no seu escritório (J.A.C.K.)

Uma das entrevistas que entrou só na finaleira do trabalho foi com o Flávio Basso, vulgo Júpiter Maçã-Jupiter Apple. Não é porque a gente queria muito entrevistar ele que o deixamos para o final, mas sim porque não estávamos conseguindo algum retorno dele ou do seu empresário na época. Eu me lembro que o Gabriel enviou alguns e-mails pra eles, mas não obtivemos nenhum retorno. Isso afetou um pouco a edição do nosso material, já que um dos integrantes da banda não iria dar nenhum depoimento no nosso trabalho. Uma das maneiras que a gente tentou preencher esse vazio foi a criação de um bloco do documentário onde os comunicadores da Pop Rock e os ex-colegas dele iriam dar um depoimento sobre a figura do Flávio Basso. Além disso, encontramos algumas frases icônicas do Júpiter na época em que ele estava nos Casca, daí as utilizamos como vinhetas de transição dos assuntos (a do Barea é a melhor, heha). Numa última tentativa minha, faltando alguns dias para a gente fechar o trabalho, eu resolvi enviar um e-mail, de novo, para o empresário do Júpiter em São Paulo falando sobre o nosso trabalho e etc. E não é que ele retornou no dia seguinte dando os telefones de contato do Flávio para a gente marcar a entrevista 🙂 Marcamos a entrevista para o final da tarde no Chalé da Praça XV, aqui no centro de Porto Alegre. Depois de um tempo de espera no bar, o Júpiter nos liga perguntando se nós gostaríamos de ir até o seu escritório perto da Praça da Alfândega, daí fomos para lá. Ele tinha recém voltado de São Paulo e estava implantando ali naquele escritório o seu selo musical próprio, o J.A.C.K.: Jupiter Apple Corporation And Kingdom. Como ele estava de mudança e não tinham muitos móveis na sala (tinha uma mesa, algumas caixas e a sua grande poltrona azul), nos sentamos no chão do corredor para fazer a entrevista tomando uma garrafa de Coca 2L (ele estava vindo de um período de reabilitação, daí só tomava refrigerante na época). Com certeza, foi uma das melhores entrevistas que eu já fiz, já que pareceu mais uma conversa entre amigos do que uma entrevista com perguntas previamente selecionadas. Acho que com o Barea foi nesse clima também. Abaixo, eu deixo uma foto nossa desse dia.

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Da esquerda para a direita: Douglas Freitas, Júpiter Maçã (Flávio Basso), Bart Borges e Gabriel Hoewell

Pra quem não ouviu ainda esse audiodocumentário, deixo aqui com vocês uma montagem que eu fiz do nosso trabalho com algumas imagens deles durante a época em que eles tocavam juntos. Na parte do doc em que a gente colocou o áudio do programa da Angélica, onde o Flávio responde a pergunta da apresentadora, eu inseri o vídeo com esse trecho que nós selecionamos. Para não ficar só uma montagem de fotos, eu também coloquei algumas apresentações deles em programas de TV. Quem diria, no começo do ano o vídeo estava com 20 mil views no YouTube e hoje já está com quase 30 mil, isso que eu só divulguei na época do trabalho, em agosto de 2011.

Muitos me perguntaram, ou pelos locais que eu divulguei o nosso documentário ou quando vinham me falar pessoalmente que tinham gostado do trabalho, se a banda tinha alguma chance de voltar um dia. Como o Júpiter disse na época, não existia um dogma em relação a este assunto, mas que eles poderiam se reunir qualquer dia e era bom manter esse ar de mistério se volta ou não volta. O Barea também disse que isso era positivo porque a aura em torno da banda permaneceria e eles não precisavam se preocupar em voltar. Vale ressaltar que todos eles se dão muito bem e a volta não se deu mesmo pelos seus trabalhos solo ou rotina atual de vida. Vi muitos dizendo por aí que a banda não voltava porque o Nei não queria e etc. Segundo o Barea, o que mais tinha pé atrás em voltar era o Flávio mesmo, já que ele tinha a sua carreira artística bem estabelecida e não pensava muito sobre um retorno dos Casca. Dando a minha opinião sobre o assunto, depois de ouvir todas as entrevistas do nosso trabalho e também do material que a gente pesquisou, eu acho que ele tinha essa reticência em voltar, além de ele estar em outro momento de composição, porque ele queria e gostava de fazer parte de uma banda de rock quando jovem: Pesadelo (banda com Barea), TNT, Cascavelletes e TNT novamente. Quando o Nei saiu da banda, ele ainda tentou fazer um power trio com os outros Casca, mas não saiu dos ensaios do estúdio. Depois ele voltou para o TNT pensando em compor de novo a banda, mas não durou muito tempo. Acho que esses últimos acontecimentos, em que ele se esforçou para ser um cara de banda, foram cruciais para ele ter esse receio de querer voltar e fazer shows de novo numa volta dos Cascavelletes, senti um pouco disso nas respostas dele sobre o assunto. Como eu disse, isso foi a impressão que eu tive, vai ver ele pensava um pouco diferente.

Uma novidade em relação aos Cascavelletes é que eles irão fazer um show em homenagem ao Flávio Basso, que faleceu no fim do ano passado. O show iria acontecer em agosto deste ano aqui em Porto Alegre, acho que no bar Opinião. Pelo que eu fiquei sabendo, o show foi transferido para o ano que vem em data a ser definida ainda. Até lá, deixo vocês com a música que os integrantes remanescentes dos Casca fizeram em homenagem ao Flávio, o Júpiter Maçã…

Bom gurizada, isso foi um pouquinho do que aconteceu para a gente contar a história dessa grande banda de rock aqui do estado. Alguns integrantes do nosso grupo faziam parte da Revista Bastião e eles publicaram uma reportagem utilizando uma parte do material das nossas entrevistas. Em outra edição da revista foi publicada partes da nossa entrevista com o Júpiter Maçã sobre a sua carreira solo e também da sua passagem nos Cascavelletes. Esse documentário foi uma produção de Ana Elizabeth Soares, Douglas Freitas, Gabriel Hoewell, Gilberto Sena, Luiza Müller e Wesley Borges (EU, Bart Borges). Foi orientado pela professora Cida Golin e com a brilhante ajuda técnica do Neudimar da Rocha, vulgo Batatinha.

Retratos e Relatos | Introdução à Fotografia

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Parque Zoológico de Sapucaia do Sul

A fotografia desperta em nós uma paixão que nem sabíamos que tínhamos por esta arte, descobrimos ela de maneiras inusitadas, não importando a nossa fase na vida. Sebastião Salgado é um bom exemplo disso, como ele mesmo conta em uma aula magna que ministrou na UFRGS em 2014. Pra quem ficou curioso, a primeira câmera que ele usou e que mudou a sua vida foi uma Pentax Spotmatic II (SPII). No meu caso, conforme a minha postagem anterior aqui no Retratos e Relatos, eu descobri que eu gostava de fotografia numa excursão do cursinho pré-vestibular que eu fazia em 2007, sendo que, até aquele momento, eu não tinha nenhum interesse por fotografia ou gostava de que tirassem fotos minhas.

Campus do Vale UFRGS

Campus do Vale UFRGS

Em 2009, eu passei no vestibular da UFRGS em jornalismo e, no ano seguinte, tive o primeiro contato com a fotografia na disciplina Introdução à Fotografia, ministrada pela professora Sandra Gonçalves. Lá aprendemos a história e biografia de grandes fotógrafos, manejar câmeras analógicas profissionais e como revelar os filmes fotográficos através de processos químicos. Como trabalhos de campo, fizemos duas saídas, uma com filme P&B, no Campus do Vale da UFRGS, e outra com filme colorido, no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul. Fazíamos esses trabalhos em duplas, sendo que o rolo de 36 poses era dividido entre nós, além das anotações da abertura da lente e da velocidade do obturador. Na imagem abaixo, vocês podem ter uma ideia mais clara como são os ajustes de uma câmera profissional, lembrando que o ISO é escolhido na compra do filme fotográfico, não na regulagem nos ajustes da câmera, como temos hoje nas máquinas digitais.

Fotometro NIKON

Eu me lembro que a gente só podia revelar e ampliar no nosso laboratório apenas quatro fotos do filme P&B e confesso que eu não sei onde foi parar o filme que eu e a minha colega revelamos. Já o filme colorido, era feito um Copião e a revelação em alguma loja de fotografia, sendo que os dois trabalhos eram avaliados com a nossa professora para discutir questões técnicas de enquadramento, luminosidade e etc. O interessante de utilizar uma câmera analógica, diferente das máquinas digitais de hoje em dia, é que você tem que planejar muito a foto antes de bater, muitas vezes esperar o momento certo do clique ou ter habilidade para não perder a chance de fotografar algo que não vai esperar que você se prepare, como bem disse Henri Cartier-Bresson“Há uma fração de segundo criativo quando você está tirando uma foto. Seus olhos devem ver uma composição ou uma expressão que a própria vida oferece a você, e você deve saber com intuição quando clicar na câmera. Esse é o momento em que o fotógrafo é criativo. Oop! O Momento! Uma vez que você o perde, está perdido para sempre.” Nesse dia do Zoológico, eu levei a minha câmera digital, aquela da minha postagem anterior, para fazer umas fotos enquanto a minha colega utilizava a máquina fotográfica da faculdade, uma Nikon que eu não me recordo o modelo. Abaixo, vou colocar algumas fotos destas saídas numa galeria, o resto vocês podem conferir nos meus álbuns do Flickr.

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Vortex | Loja de Rock, Selo Musical, Produtora de Vídeo, Estúdio e Bar

A postagem de hoje é sobre um bar que foi muito inovador aqui em Porto Alegre (talvez do mundo) nos anos 80, o Vortex. Essa reportagem que eu fiz foi publicada na revista Sextante da FABICO/UFRGS em 2012/1, inclusive serviu de inspiração para o pessoal do Radar, da TVERS, fazer um programa especial sobre o tema. Ao final da reportagem, vou colocar esse especial do Radar e mais alguma coisa relativa ao tema…

Bar Vortex

Foto em frente ao bar Vortex. Da esquerda para direita: Cláudio Heinz, Luciana Tomasi, Carlos Gerbase, Heron Heinz e Wander Wildner. Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

O futuro é Vortex

Nesta quarta-feira, dia 2 de setembro, um turbilhão de ideias toma conta da cidade. A partir das 22h, abrem-se oficialmente as portas de VORTEX, um lugar que reúne, num mesmo endereço (Protásio Alves, 737) várias possibilidades de cultura e lazer: estúdio completo para ensaios musicais, com bateria e ar condicionado; vídeo-bar com programação permanente de clipes e shows de Porto Alegre e do mundo; loja especializada em rock, com discos, fitas, camisetas e vídeos selecionados. Ou seja: dá pra ensaiar tomando uma cerveja bem gelada, ou comprar um disco vendo um clipe da banda que o gravou, ou assistir (pela TV) a um show ao vivo de um grupo que está no estúdio naquele momento, ou tudo isso ao mesmo tempo, dependendo do gosto do freguês…

Esse é o primeiro release do bar Vortex, sede da banda Os Replicantes, um lugar com muitas possibilidades de entretenimento. Eu confesso que eu nunca tinha ouvido falar desse lugar aqui em Porto Alegre e só descobri depois de uma conversa informal ao final de uma entrevista com o cineasta Carlos Gerbase. Fiquei muito curioso para saber mais sobre esse bar, queria que essa história fosse publicada em algum lugar. Aqui estamos.

Um lugar que abrigava vários lugares

Um local onde as bandas podiam ensaiar os seus shows e, de brinde, serem gravados por uma câmera de vídeo que transmitia ao vivo para o bar tudo o que rolava lá dentro do estúdio. Uma casa onde você poderia conversar com os seus amigos assistindo a vídeos de bandas que você gosta (não existia MTV aqui nessa época) ou ir na loja especializada de rock comprar umas camisetas, discos, etc. E, além de tudo isso, ser um selo independente que gravava e distribuía materiais em áudio e vídeo das bandas daqui da cidade: Bem-vindo ao bar Vortex.

O selo Vortex surgiu quando a banda Replicantes, entre 1985/86, decidiu gravar um compacto duplo das suas canções. O dinheiro para fazer este trabalho viria dos integrantes através de uma associação realizada junto com a produtora da banda, Luciana Tomasi. Nessa época, a gravadora RCA chega ao Rio Grande do Sul decidida a investir em cinco bandas locais, entre elas Os Replicantes. O investimento da gravadora deu um bom retorno, pois a banda vendeu aproximadamente 20 mil cópias e teve uma boa execução nas rádios. Entre shows e festivais de música, Os Replicantes perceberam que haviam muitas bandas boas na região e, algum tempo depois, começaram a pensar em alguma maneira de divulgar melhor o trabalho desses artistas. Mas o obstáculo maior para colocar em prática isto era a falta de capital financeiro, já que eles não tinham dinheiro para investir neles próprios, quem dirá investir em outras bandas. A solução para esse problema surgiu logo em seguida, quando a RCA procurou a banda para fazer um novo contrato a fim de lançar mais dois discos. Como tinham feito uma boa venda do primeiro LP, a banda aceitou fazer esse contrato, desde que recebessem um adiantamento. Em 1987, com o dinheiro que receberam da gravadora, Os Replicantes resolveram investir num lugar onde pudessem aplicar um capital, nem que fosse mínimo, para lançar essas bandas novas. Alugaram uma casa onde eles poderiam colocar tudo o que eles achassem legal, como afirma Gerbase:

– A gente transformou essa casa num bar, é bom beber; num estúdio para ensaiar, o que resolvia um problema nosso para ensaiar; uma loja de discos especializada em rock e uma sede do selo Vortex.

Além disso, o local também era uma produtora de vídeo, que na época se chamava InVideo, porém no futuro passou a se chamar Vortex Vídeo. Eles começaram lançando fitas cassete e, logo em seguida, fitas VHS das bandas que tinham contrato com o selo. Muitas bandas forneciam o material gravado de outro estúdio para que fosse distribuído pela Vortex, como é o caso dos Cascavelletes com a sua primeira fita demo. Algumas pessoas dizem que a qualidade sonora de alguns trabalhos distribuídos pela Vortex era superior inclusive a de muitas regravações “oficiais” feitas posteriormente por outras gravadoras, tais como a fita da Graforréia Xilarmônica chamada Com Amor Muito Carinho, que foi gravado no próprio estúdio da Vortex, e a primeira fita demo dos Cascavelletes. Outro trabalho que é reconhecido pela sua qualidade sonora, e Gerbase não tem certeza se foi gravado na Vortex ou em outro local, são as duas fitas demo do músico Júlio Reny, chamados Amor e Morte e Não chores Lola. Todo o material do selo Vortex era vendido na própria loja ou pelo serviço de Caixa Postal.

Alguns releases da Vortex eram feitos no estilo fanzine. Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Carlos Gerbase disse que o bar Vortex não tinha uma direção, já que Os Replicantes eram uma banda anárquica e cada um fazia o seu trabalho, um não incomodava o outro:

– O Wander cuidava mais das gravações do estúdio, o Claúdio Heinz ficava no bar, o Heron fazia um pouco de tudo, eu cuidava muito da parte de vídeo, não haviam cargos e funções específicas, cada um fazia um pouco de tudo.

As bandas que ensaiavam ou gravavam no estúdio eram transmitidas ao vivo para as televisões que existiam no bar, como se fosse um pocket show para os frequentadores. Quando não tinha alguma banda tocando no estúdio, eles deixavam vídeos de bandas rodando nas televisões. Alexandre Barea, ex- baterista dos Cascavelletes, era um dos frequentadores do local:

– O Vortex era um estúdio/bar onde compusemos os maiores clássicos dos Casca. Ensaiávamos duas vezes por semana lá e rolavam também os ensaios/show, onde tudo o que rolava dentro do estúdio era transmitido para umas TVs que ficavam no bar onde reunia muita gente – afirma Barea.

– EROON, EROON!!! Assim chegava todos os dias a dona Maria, uma moradora de rua que vivia perto do bar. Gerbase e os outros integrantes da banda diziam que ela era apaixonada pelo Heron Heinz, de tanto que ela gritava chamando por ele para pedir alguma coisa no bar. Além disso, a dona Maria era uma das pessoas que ajudava a cuidar da casa também. A maioria dos frequentadores do bar Vortex não tinha muita grana para gastar, conta Gerbase:

– Tinha muito punk que ia lá e punk é duro por natureza, vai consumir o mínimo possível e se divertir ao máximo. Tinha gente que ia lá umas seis horas da tarde, tomava uma Coca-Cola e ficava até às duas horas da manhã lá, sentado na mesa, vendo vídeos e ouvindo umas músicas, daí não tinha lucro nenhum.

Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Fonte: Acervo Pessoal Carlos Gerbase

Boas lembranças pra quem conheceu

Como diz aquela velha frase clichê: “Tudo que é bom, dura pouco.” O bar Vortex durou exatamente um ano, o tempo do contrato do aluguel da casa. O dono queria um aumento no valor do aluguel e como o dinheiro investido na casa retornou para a banda, estavam num “zero a zero”, lembra Carlos Gerbase. Sendo assim, resolveram encerrar as atividades no local, mas sem acabar com alguns projetos construídos nesse ano de funcionamento. As festas organizadas pela Vortex passaram a ser realizadas no bar Ocidente com o nome Noites de Vortex, onde duraram mais ou menos dois anos. A casa fechou, porém o selo continua na ativa até hoje, com menos vigor e atividade do que na época de funcionamento do bar.

Logo após a entrevista que eu fiz com Gerbase, entra no escritório um dos personagens dessa história, Wander Wildner. Como eu fui pego de surpresa, na hora nem pensei em fazer alguma pergunta referente ao bar Vortex ou tirar alguma foto, fiquei conversando com dois sobre assuntos diversos. Durante a conversa, Gerbase mostra ao amigo duas fotos antigas do tempo em que o bar funcionava e os dois ficaram admirando aquelas fotos com um olhar de nostalgia. Wander disse que nunca tinha visto aquelas fotos que estavam nos arquivos do Gerbase. Ver aquela cena, valeu mais do que qualquer pergunta que eu fizesse para ele no momento. Aquele olhar mostrou que o bar Vortex deixou boas lembranças pra quem um dia foi lá.

Hoje no local onde era o bar Vortex é o estacionamento de um restaurante. Fonte: Bart Borges

Hoje no local onde era o bar Vortex é o estacionamento de um restaurante. Fonte: Bart Borges

Como eu disse no início do post, essa reportagem serviu de inspiração para a produção do Radar fazer um programa especial sobre esse lugar multifuncional dos anos 80. Confere aí abaixo, o programa que teve o primeiro episódio dessa série especial com entrevistados ao vivo no estúdio também:

Um dos entrevistados no estúdio naquele dia foi o Boca Migotto, diretor do documentário Filme Sobre um Bom Fim. Nesse doc, podemos ver como era a cena jovem porto-alegrense nos anos 80, inclusive a parte da falta de grana da gurizada, hehe. Pra quem tem acesso ao Now da Net, pode assistir o documentário através do Canal Brasil On Demand pelo decodificador ou pelo site usando o login da sua TV por Assinatura.

Uma curiosidade sobre essa reportagem do bar Vortex, que eu não incluí na reportagem, foi sobre o material gravado em vídeo daquela época. O Gerbase me falou no dia da entrevista que eles possuem um acervo enorme de fitas em vídeo e um dia, quem sabe, eles irão fazer um documentário sobre o próprio bar Vortex ou das bandas que passaram por suas lentes durante os eventos produzidos pelo selo Vortex. Me lembro que na época até me ofereci a ajudar eles na catalogação desse material. Sem querer, durante a pesquisa para este post, encontrei o Carlos Gerbase e a Luciana Tomasi falando sobre o assunto numa matéria da ZH. Outra informação que não entrou na matéria, mas não menos importante, é que o Frank Jorge, segundo o Gerbase, passou pelo estúdio/selo da Vortex com todas as bandas que ele participava na época. Espero que tenham gostado da postagem e quem sabe um dia a gente possa ver todo esse acervo audiovisual num documentário.

⊗ Após a publicação desta postagem, recebi um depoimento interessante de um dos frequentadores do local na época, Gilberto Six, da web rádio Putzgrila. Acho que vale fazer esse adendo:

“Passei muitas tardes e noites nesse lugar, além de fazer os primeiros ensaios com a banda que eu tentava formar na época.
O acervo de vídeos do Carlos Gerbase era único e através dele pude conhecer filmes e vídeos de bandas que jamais veria em lugar nenhum.
Vi alguns shows clássicos que eram transmitidos pelo circuito de vídeo de dentro do estúdio, como um baile de três horas protagonizado pela Graforréia Xilarmônica, que teve direito a telão na rua. Numa tarde, errei a porta do banheiro e acabei dando de cara com um ensaio dos ainda embrionários Cascavelletes, que além de ensaiar na Vortex teve uma fita cassete lançada pelo selo com seu incendiário repertório. Além deles, a Graforréia também teve uma fita cassete lançada pelo selo.
Na época, eu trabalhava no Supermercado Dosul e sempre que via alguém dos Replicantes fazendo compras dava um jeito de levar as compras, quase sempre era o Claudio Heinz de quem eu era fã e que sempre me tratou bem e nunca negou uma conversa, apesar de parecer sempre ter acordado a pouco.
Cheguei a passar uns dias nessa casa quando ela ficou vazia e abandonada. Essa casa foi destruída, só ficou o terreno, um grande vazio e a saudade de um tempo que não volta mais.
Parabéns Bart Borges por resgatar essa história.”